
Banco Master: Análise da Rejeição pelo Banco Central e Impactos para Investidores em Renda Fixa
Entenda os desdobramentos da decisão do BC e como o FGC protege seus
investimentos em CDB, LCI e LCA
O mercado financeiro brasileiro foi impactado na primeira semana de setembro de 2025 pela decisão do
Banco Central de rejeitar a aquisição do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). Esta operação,
avaliada em aproximadamente R$ 2 bilhões e anunciada em março, representaria uma das maiores
aquisições bancárias dos últimos anos no país.
Contexto da Operação e Motivos da Rejeição
A proposta de aquisição contemplava 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Banco
Master, totalizando 58% do capital social da instituição. O Banco Central, através de sua Diretoria
Colegiada, indeferiu o pedido em 3 de setembro de 2025, citando questões relacionadas ao risco de
operações não conhecidas que o BRB teria que assumir.
O Banco Master cresceu exponencialmente nos últimos quatro anos, multiplicando por dez seu
patrimônio líquido e quintuplicando sua carteira de crédito. Essa expansão foi sustentada por uma
estratégia agressiva de captação através de Certificados de Depósito Bancário (CDB) com taxas médias de
até 140% do CDI, significativamente superiores às oferecidas pelos grandes bancos do sistema financeiro
nacional.
Estrutura de Ativos e Modelo de Negócio
Uma característica distintiva do Banco Master é a composição de seu patrimônio, onde
aproximadamente 34% dos ativos são formados por créditos a receber, incluindo precatórios e direitos
creditórios oriundos de ações judiciais. Esta estrutura difere substancialmente dos grandes bancos
tradicionais, cuja carteira é majoritariamente composta por empréstimos ao varejo e pessoa jurídica.
A instituição captou cerca de R$ 70 bilhões em CDBs, utilizando a garantia do Fundo Garantidor de
Créditos (FGC) como principal atrativo para investidores. Este modelo de negócio, embora tenha
proporcionado crescimento acelerado, gerou questionamentos sobre sustentabilidade e gestão de riscos
no mercado financeiro.
Reação do Mercado e Impactos nos Investimentos
Após a divulgação da decisão do Banco Central, observou-se uma nova onda de resgates antecipados
nos produtos do Banco Master, similar ao movimento registrado em abril de 2025. No mercado
secundário de renda fixa, os CDBs da instituição passaram a ser negociados com prêmios de risco
elevados, refletindo o aumento da percepção de incerteza pelos investidores.
As plataformas de negociação de grandes corretoras registraram ofertas de CDBs do Banco Master com
vencimentos diversos e taxas que podem chegar a 25% ao ano para prazos mais curtos e IPCA + 19%
para vencimentos mais longos. Estes prêmios extraordinários são resultado direto da pressão vendedora
e do aumento da percepção de risco creditício.
Proteção do FGC: Garantias e Limites
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma instituição privada sem fins lucrativos que integra o Sistema
Financeiro Nacional e tem como missão proteger depositantes e investidores em caso de intervenção ou
liquidação de instituições financeiras associadas.
Características da Garantia do FGC:
Valor máximo: R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição ou conglomerado financeiro
Limite temporal: R$ 1 milhão por período de quatro anos para o mesmo titular
Cobertura: Inclui principal e juros acumulados até a data de eventual decreto de regime especial
Produtos cobertos: CDB, LCI, LCA, LC, Poupança, depósitos à vista, entre outros
Importante: A garantia é calculada por conglomerado financeiro, não por produto individual. Isso
significa que investimentos em CDB, LCI e LCA da mesma instituição são somados para efeito do limite
de R$ 250 mil.
Cálculo da Garantia e Aspectos Tributários
O FGC garante o valor do principal mais os juros acumulados até a data de decretação do regime
especial, respeitando o limite de R$ 250 mil por titular. Os impostos incidentes sobre os rendimentos são
deduzidos do valor a ser pago, seguindo a tabela regressiva do Imposto de Renda aplicável a cada
produto.
Em contas conjuntas, o valor da garantia é limitado a R$ 250 mil ou ao saldo da conta (se menor),
dividido igualmente entre os titulares, com cada um recebendo sua parte separadamente.
Cenários Futuros para o Banco Master
A rejeição da operação pelo Banco Central abre duas possibilidades principais para o futuro da
instituição:
Cenário 1 – Nova Tentativa de Aquisição: O BRB manifestou interesse em avaliar os fundamentos da
decisão e examinar alternativas cabíveis. Existe a possibilidade de reformulação da proposta ou entrada
de novos interessados na aquisição, o que poderia trazer estabilidade operacional à instituição.
Cenário 2 – Continuidade Independente ou Liquidação: Na ausência de uma aquisição bem-sucedida,
o banco pode enfrentar desafios de liquidez e sustentabilidade operacional, especialmente considerando
a pressão por resgates e a necessidade de renovação de captações.
Gestão de Risco e Diversificação
A situação do Banco Master reforça princípios fundamentais da gestão de investimentos em renda fixa:
Diversificação por Instituição: Para investidores com patrimônio superior aos limites do FGC, a
diversificação entre diferentes instituições financeiras é estratégia essencial para maximizar a proteção
oferecida pelo fundo garantidor.
Análise de Risco versus Retorno: Rentabilidades significativamente superiores à média do mercado
frequentemente estão associadas a riscos proporcionalmente elevados, exigindo análise criteriosa dos
fundamentos da instituição emissora.
Acompanhamento Regular: O monitoramento contínuo da situação das instituições financeiras onde se
mantém investimentos é prática recomendada para gestão prudente de riscos.
Regulamentação e Mudanças Recentes
Em resposta a casos como o do Banco Master, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou em
agosto de 2025 mudanças nas regras do FGC, que entrarão em vigor em junho de 2026. As novas
regulamentações visam inibir condutas excessivamente agressivas na captação de recursos e reduzir o
risco moral no sistema financeiro.
Considerações para Investidores
Para investidores com exposição ao Banco Master ou instituições similares, é fundamental:
Conhecer os limites do FGC e sua aplicação por conglomerado financeiro
Avaliar o nível de concentração em instituições de menor porte
Considerar estratégias de diversificação quando o patrimônio exceder os limites de garantia
Acompanhar desenvolvimentos regulatórios e de mercado que possam impactar os investimentos
A situação atual do Banco Master exemplifica a importância de uma abordagem equilibrada na
construção de carteiras de renda fixa, considerando tanto oportunidades de rentabilidade quanto a
adequada gestão de riscos e proteção patrimonial oferecida pelos mecanismos regulatórios do sistema
financeiro nacional.
O mercado de renda fixa brasileiro oferece ampla gama de alternativas para diferentes perfis de risco e
objetivos de investimento. A análise criteriosa das instituições emissoras, combinada com estratégias
adequadas de diversificação e o entendimento dos mecanismos de proteção disponíveis, constituem
pilares fundamentais para o sucesso de longo prazo em investimentos de renda fixa.